5 de maio de 2013

BREVE HISTÓRIA DO EURO EM PORTUGAL

Era uma vez uma moeda nova que entrou num país para substituir uma moeda velha. Esta última tinha cumprido honradamente a sua missão. Tratando-se de um meio geral de troca ao serviço de uma população pobre, lá tinha conseguido animar modestamente uma agricultura de subsistência, um comércio de bairro e uma indústria protegida. Não é que todos vivessem bem, longe disso. Mas os que contavam os tostões ainda não tinham perdido de todo a esperança. Quando a este País chegou a tal moeda nova, ainda por cima a substituir a saia preta até aos pés pela minissaia da "estranja", muita gente se pôs de cócoras. Que sim senhor, que até que enfim se tinha uma moeda forte, que já era tempo de sermos europeus e etecétera. Mas a moeda nova trazia as suas exigências. Uma delas era que , no tal país secular, se acabasse com a agricultura. Nem interessava que a dimensão rural da existência comunitária estivesse plasmada nos Pereira, nos Macieira, nos Pinheiro, nos Carvalho, nos Cerejo da nomenclatura pessoal. E vai daí, viram-se agricultores de sempre serem pagos para arrancarem plantios muito antigos de vinha ou sementeiras recentes de cereais. A seguir, a moeda nova, toda dengosa, apresentou outra reclamação. Era necessário abater a frota pesqueira. Ela pagava, pagava tudo. E viram-se tisnados e experientes bacalhoeiros a desfazerem metodicamente os barcos que até então lhes davam de comer. Claro que houve quem perguntasse como é que este tal Povo iria sobreviver. E a moeda nova, muito serigaita, declarou que iríamos viver do Turismo, do sol e mar das praias e dos velhinhos com bicos de papagaios e espinhelas caídas que a Europa do Norte, friorenta e plúmbea, iria mandar até nós. Assim se fez. Mas para que esta moeda, universal à Europa, ficasse satisfeita e se impusesse, os tipos de Bruxelas deram uma ordem fatal : -Gastem, gastem à tripa forra. Tudo a comprar casa nova e a mudar de automóvel. E disseram mais. Viraram-se para a politicagem e ponderaram - Vocês deixem-se de ser parvos. Tratem de enriquecer a bem ou a mal. Metam a mão no pote da compota , que nós cá estamos. É também assim que se faz no resto da Europa. E foi um " vê se te avias ". Quando cá chegaram os milhões prometidos, fizeram-se todas as tropelias. Até se viram funcionários públicos, que não sabiam distinguir uma teta de vaca das mamas da mulher legítima a construírem hipóteses de vacarias ... Meninos, foi um fartote. E a moeda antiga, já suprimida, ficou como memória distante. Agora rebentou a bronca. A moeda nova deu em puta. Mas só ofereceu serviços aos tais velhinhos do norte e à sacanagem de Bruxelas. E agora ? Agricultura ? Já era. Pescas ? Não há. Florestas ? Ardem como tochas, no verão. Por falar em Verão, houve no meios disto tudo um gajo que aprendeu com a moeda nova e se foi safando. Safou-se com as tais velhinhas de espinhela caída e de bicos de papagaio. Era e é algarvio. Não sei se já se reformou. Dá pelo nome de Zé Camarinha. Desconfio que a Europa recomenda a "profissão" a todos nós. A moeda velha é que se está a rir a bandeiras despregadas.

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